13 de janeiro de 2014

O centenário do nascimento de Jijé

O meu primeiro contacto com a obra deste grande artista belga foi no Mundo de Aventuras com o western Jerry Spring. Mais tarde, com a aquisição da colecção do Cavaleiro Andante, apreciei e deliciei-me com a biografia desenhada do fundador do escutismo, Baden-Powell, tanto mais que, à época era um escuteiro activo do Corpo Nacional de Escutas.

Joseph Gillain nasceu na localidade belga de Gedinne a 13 de Janeiro de 1914, às portas do primeiro conflito militar mundial. Logo, em criança, os pais anteveram a sua vocação para o desenho e facilitaram-lhe aulas com o escultor Alex Daoust, que, por sua vez, o encaminha para a escola beneditina Saint-Joseph de Maredsous, especializada em modelagem, pintura, cerâmica e gravura em couro. 

Aos dezoito anos ingressa na Academia de Belas Artes e Artes Decorativas de Bruxelas. Três anos mais tarde, estreia-se na imprensa com ilustrações e capas para o jornal católico Le Croisé, um concorrente do Le Petit Vingtiéme, onde Hergé publicava, há alguns anos, as aventuras do repórter Tintin. Para "combater" o herói de Hergé, Jijé cria Jojo em 17 de Maio de 1936, que, contudo, só vive duas aventuras.

Paralelamente, ao trabalho no Le Croisé, Jijé desenha para a revista Petits Belges as aventuras de dois jovens garotos com os nomes de Blondin e Cirage, baptizados em Portugal por Adolfo Simões Muller na revista Zorro com os nomes pouco ortodoxos de Loirinho e Escarumba.


Em 1939, Jijé ingressa na grande revista de imprensa juvenil da época, a Spirou. A versatilidade e a competência, logo reconhecida pelos proprietários da revista, colocam Jijé como o verdadeiro «homem do leme«, levando a publicação a um dos períodos mais áureos da sua existência. Toma a responsabilidade, em 1940, de Spirou, o groom de hotel que dá nome à revista, já que o seu criador, Rob-Vel, em serviço militar, não consegue fazer chegar as suas pranchas à redacção, visto as fronteiras entre a França e a Bélgica se encontrarem encerradas, devido ao início das hostilidades da Segunda Guerra Mundial. 

Fruto da sua educação católica, Jijé empreende vários projectos biográficos sobre a vida da Igreja. Emmanuel, uma biografia de Jesus Cristo, é apresentada nas páginas da Spirou em 1940. No ano
seguinte, será a figura de Dom Bosco.


Em 1941, com argumentos de Jean Doisy, Jijé desenha as aventuras do detective Jean Valhardi
Em 1942, apresenta a biografia do navegador Cristóvão Colombo.



A influência de Jijé na revista Spirou ia criando raízes com seguidores como Franquin (o futuro desenhador de Spirou), Morris (Lucky Luke), Eddy Paape (Luc Orient), Victor Hubinon (Buck Danny), Peyo (Schtroumpfs) e Jean Roba (Boulle e Bill). Estava criado um estilo que a história da BD franco-belga denominará como a Escola de Marcinelle, nome do bairro onde se sediava a redacção da revista Spirou

Em busca de novas realidades, de novos ambientes, Jijé abandona provisoriamente a Spirou e com a sua família parte à descoberta dos Estados Unidos  e do México. Acompanha-os Morris e Franquin. Durante dois anos o trio permanece nas Américas, continuando, contudo, a enviar os seus trabalhos para a Spirou. Em 2013, um álbum de BD de Schwartz e Yann, intitulados "Gringos Locos", retrata esta aventura em terras americanas.

Entre 1948 e 1950, adapta à BD a vida do fundador do escutismo, Baden Powell e em 1951 retoma as aventuras do duo Blondin et Cirage. Mas será em 1954 que Jijé lança a série que maior marca deixa na bibliografia do autor: Jerry Spring, um western realista, que terá 24 episódios até 1977, alguns assinados por escritores como Goscinny, Rosy, Lob e do seu filho Philippe. Em 1956, retoma Jean Valhardi com argumentos de Charlier e, mais uma vez, do seu filho.

Paralelamente ao trabalho na Spirou, Jijé colabora nas revistas Bonnes Soirées, Moustique e Line

Em 1966, substitui Albert Uderzo ("atrapalhado" com o sucesso de Astérix) na série de aviação e guerra, Tanguy e Laverdure, com argumento de Jean-Michel Charlier

Em 1979, na companhia do seu filho mais novo Laurent, ilustra duas aventuras de Barba-Ruiva

É distinguido com o Grand Prix Saint-Michael em 1975 e, dois anos depois, Angoulême atribui-lhe o seu Grande Prémio. 

Morre em Versailles em 20 de Junho de 1980. Em 2004, reconhecendo a grande importância de Jijé na BD franco-belga, fruto da sua excelente capacidade criativa, tanto ao nível realista ou humorístico, Bruxelas acolhe um Museu que apresenta a sua obra a todos aqueles que amam a banda desenhada como um expoente da cultura gráfica e narrativa.

Em 2014, comemorando-se o centenário do seu nascimento, são várias as iniciativas culturais e editoriais agendadas, nomeadamente, exposições e reedições das obras, assim como ensaios biográficos sobre o autor.

Em Portugal, a obra de Jijé foi medianamente divulgada, mormente em revistas. Em álbum, só foram editados quatro livros com aventuras de Jerry Spring, além de um álbum do Spirou.

Deixo um ensaio bibliográfico de Jijé em Portugal:

One-shots

  • Baden-Powell (Baden-Powell), Jijé, Cavaleiro Andante #210 a #297
Blondin e Cirage (Loirinho e Escarumba)

  • Blondin & Cirage no México (Blondin et Cirage au Mexique), 1951, Zorro #57 a #70 
  • Blondin & Cirage em África (Le nègre blanc), 1951, Zorro #108 a #120
  • Kamiliola (Kamiliola), 1952, Zorro #86 a #97 
  • O sol negro (Valhardi contre le soleil noir), 1956, Jijé, Foguetão #1 a #13 e Cavaleiro Andante #510 a #523
  • A quadrilha do diamante (Le gang du diamant), 1957, Jijé, Zorro #38 a #48
  • O segredo da mina abandonada (Golden Creek, le secret de la mine abandonnée), 1954, Jijé, Cavaleiro Andante #210 a #252
  • O mistério do rancho grande (Le splendide cavalier [Yucca Ranch]), 1954, Jijé e Rosy, Cavaleiro Andante #254 a #298
  • Lua de prata (Le visage pâle [Lune d'argent]), 1955, Jijé, Cavaleiro Andante #300 a #339; Mundo de Aventuras (2ª fase) #325 a #326
  • Tráfico de armas/Uma aventura no México (La révolution méxicaine [Trafic d'armes]), 1955, Jijé, Mundo de Aventuras (2ª fase) #54 a #55 e #70 a #71
  • A passagem dos índios (La passe des Indiens), 1955, Jijé, Mundo de Aventuras (2ª fase) #191 a #192
  • O desfiladeiro da morte (La piste du grand nord), 1956, Jijé, Cavaleiro Andante #340 a #378
  • A herdeira do rancho (Le ranch de la malchance), 1956, Jijé, Cavaleiro Andante #384 a #397
  • Inquérito arriscado (Enquête à San Juan), 1957, Jijé, Cavaleiro Andante #398 a #417
  • O testamento do velho Tom (Le testament de l'oncle Tom), 1957, Jijé, Cavaleiro Andante #419 a #427
  • Forte Red Stone (Fort Red Stone), 1958, Jijé e P. Gillain, Mundo de Aventuras (2ª fase) #114 a #115
  • O rei da serra (Le maître de la sierra), 1960, Jijé e P. Gillain, Zorro #54 a #69
  • O mistério do saco vazio (?), ?, Jijé, Nº Especial Cavaleiro Andante #Natal 1960
  • El Zopilote (El Zopilote), 1962, Jijé, Álbum Edições 70 [1983]
  • Pancho «fora-da-lei»/Pancho em apuros (Pancho hors la loi), 1963, Jijé, Mundo de Aventuras (2ª fase) #165 a #166; Álbum Edições 70 [1983]
  • Os broncos de Montana (Les broncos du Montana), 1963, Jijé, Spirou (1ª série) #1 a #22; Álbum Edições 70 [1984]
  • Meu amigo Red (Mon ami Red Lover), 1964, Jijé, Mundo de Aventuras (2ª fase) #137; Álbum Edições 70 [1984]
  • O lobo solitário (Le loup solitaire), 1964, Jijé, Mundo de Aventuras (2ª fase) #93; Álbum Edições 70 [1984]
  • Os vingadores do Sonora (Les vengeurs du Sonora), 1965, Jijé, Mundo de Aventuras (2ª fase) #466 a #467
  • Jerry contra KKK (Jerry Spring contre K.K.K.), 1966, Jijé e Lob, Mundo de Aventuras (2ª fase) #235
  • O duelo (Le duel), 1966, Jijé e Lob, Mundo de Aventuras (2ª fase) #257
  • A rapariga do canyon (La fille du canyon),1976, Jijé e P. Gillain, Spirou (2ª série) #1 a #23; Jornal da BD #67
  • Como uma mosca no tecto (Comme une mouche au plafond), 1949, Jijé, Spirou (2ª série) #9 a #14; Álbum Editorial Pública(1) [1981]; Jornal da BD #94
  • Os chapéus pretos/Os chapéus negros (Les chapeaux noirs), 1950, Franquin e Jijé, Franquin, Zorro #138 a #141; Jacaré #1 a #8; Spirou (2ª série) #1 a #9; Álbum Editorial Pública [1981]; Jornal da BD #86
  • Os homens-rãs (Les hommes grenouilles), 1951, Jijé, Zorro #142 a #144, Spirou (2ª série) #15 a #21; Álbum Editorial Pública (3); Jornal da BD #96
  • O alferes Bang-Bang (Lieutenant Double-Bang!), 1968, Jijé e Charlier, Tintin #13 a 35/3º ano
  • Luta no deserto (Baroud sur le désert), 1969, Jijé e Charlier, Tintin #29 a #51/4º ano
  • Os vampiros atacam à noite (Les vampires attaquent la nuit), 1970, Jijé e Charlier, Tintin #38/5º ano a 8/6º ano
  • O terror vem do céu (La terreur vient du ciel), 1970, Jijé e Charlier, Tintin #37/7º ano a #11/8º ano
  • A misteriosa esquadra Delta (La mystérieuse escadre Delta), 1979, Jijé e Charlier, Álbum Meribérica
  • Operação Trovão (Opération Tonnerre), 1981, Jijé e Serres, Charlier, Jornal da BD #147; Álbum Meribérica

Sem comentários:

Enviar um comentário